08
jun
11

Quem somos os tradutores de medicina?

Um post rapidinho sobre quem traduz medicina atualmente. A pesquisa informal em inglês foi retirada daqui e a apresentação inteira vale ser lida.

– A maioria de nós tem formação linguística e não médica (7:1), e quando tem formação médica ela é bem variada (enfermagem, biomedicina, farmacêutica)

– Como em outros segmentos da tradução, as mulheres são maioria (6:1)

– A maioria trabalha de forma autônoma e em tempo integral

– Em muitos casos o cônjuge atua na área da saúde

Eu me encaixo em quase todos os itens, exceto pela minha formação, que não é nem linguística nem médica…

04
jun
11

A utilidade dos glossários

O Renato fez um comentário sobre o post anterior, e aproveito o gancho para dar minha opinião sobre glossários em geral na resposta que comecei a escrever para ele. Não esgotarei o tema, porque já esgotei o tempo que tenho escrevendo este post.

Bem, vamos lá, vou fazer um assopra-morde-assopra:

Para traduzir textos da área da saúde, o fato de você ser acadêmico de medicina é ótimo, e te dá uma enorme vantagem sobre as pessoas que nunca tiveram contato com “o outro lado” da medicina, o lado do profissional de saúde. No milênio passado também fui acadêmica de medicina por um breve período.

Quanto aos glossários, minha opinião é que eles são ótimos quando são confiáveis, mas a grande maioria não é. Não porque o autor/compilador não pesquisou ou errou, mas porque um glossário completo de medicina (e de qualquer outra área, por sinal) é algo impossível de se conseguir. Um mesmo termo pode ser traduzido de modos diferentes dependendo do tema, ou do público-alvo. Além disso, a medicina está sempre evoluindo e esses glossários precisariam evoluir também para dar conta desses desdobramentos.
Uma outra coisa que acho dos glossários é que não podemos depender só deles para traduzir, nem dos dicionários bilíngues. É preciso entender o contexto em que o termo aparece, e muitas vezes uso dicionários monolíngues ou a internet para ***entender*** o termo, depois procurar sua tradução. Tenho um dicionário médico bilíngue de papel, o Stedman, que em alguns projetos confesso que é meu melhor amigo, mas só o comprei já com vários anos de experiência, por causa da prova da American Translators Association, em que não é possível consultar a internet.

Resumindo, acho louvável o seu esforço sim, e gostaria de ser avisada quando você concluí-lo, por favor. Você pode trocar experiências com um colega nosso tradutor jurídico, que há pouco tempo publicou um dicionário jurídico muito elogiado pelos colegas que trabalham na área. O nome dele é Marcílio Moreira Castro

Só lembre que um glossário é ***mais uma*** ferramenta do arsenal de qualquer tradutor.

Antes que eu me esqueça, o Renato perguntou sobre a repercussão potencial de um glossário médico. Sinceramente, você não vai ficar rico com isso. Somos poucos os tradutores especializados em medicina, e ainda que tradutores de outras áreas comprem o glossário, somos poucos os tradutores. No entanto, se o seu glossário for bom e útil, como o do Ivo Korytowsky, você ganha respeito dos seus pares e provavelmente ganhará também clientes. Mas lembre-se que o contrário vale também: se o glossário não for bom…

30
abr
11

Abreviaturas, siglas, hieróglifos e trava-línguas

No início da semana entreguei um dos arquivos de um projeto ainda em andamento. O arquivo tinha mais de 40 mil palavras. Até aí, ótimo, trabalho é sempre bom. Mas esse foi o pior arquivo com o qual já trabalhei até hoje, desde 1996, quando fiz minha primeira tradução. Chegou a desbancar o antigo primeiro lugar, um contrato sobre mineração com escritura da propriedade e tudo mais, que fiz logo no início de carreira, crua, inocente e sem noção, quando anunciava no jornal e pegava o que aparecesse.

Por que o arquivo era um pesadelo? No final das contas, porque parecia mais um glossário do que qualquer outra coisa. Eram 15 mil segmentos de: “RO Art Pel/L Ex w/wo”, ou de “Neph Uret Stn-NU Rmv/Rpl Bil(“ ou ainda “US-Gd Ctrl Ven Cath Plc NTun(T”. Assim mesmo, com umas aspas sem fechar, uma loucura. Das 40 mil, entreguei quase 2 mil sem solução, à espera de respostas do cliente ao meu pedido para que decifrem o que está escrito no original para que eu possa traduzir.

Esse serviço me deu vontade de falar aqui não sobre o fato de que o cliente quis me vender gato por lebre, ou seja, aplicar a tarifa comum a um arquivo absurdamente incomum. Isso a gente tem como evitar, sabendo se posicionar com o cliente. O que é impossível de evitar é encontrar esses absurdos no texto (texto?). Reuni aqui algumas classes que considero interligadas: abreviaturas, siglas, hieróglifos e trava-línguas. Cada uma mereceria um post separado, mas como sempre que prometo escrever o próximo acabo não escrevendo, vou começar aqui e algum dia pode ser que retome o assunto.

Para mim, existe uma tênue diferença entre abreviaturas e o que chamo aqui de hieróglifos. As abreviaturas são as inteligíveis, que fazem sentido ou, no mínimo, são consagradas mesmo que não façam sentido para mim. Eu tive que me policiar por um tempo para nunca traduzir Rx num texto em inglês como raio X, porque Rx quer dizer “prescription”. Similarmente, Tx = tratamento, Dx = diagnóstico. Lindo, né? Nos exemplos acima, posso desvendar parte do que está escrito, o resto é hieróglifo e para eles preciso da pedra de Rosetta (o cliente final). Por exemplo: “L Ex” deve ser left extremity; e “US-Gd Ctrl Ven Cath Plc” deve ser Ultrasound-guided Central Venous Catheter Placement. É ou não é pra chorar? O pior é quando a mesma abreviatura pode querer dizer mais de uma coisa. Nesse arquivo eu encontrei Lymph em vários segmentos. Podia ser linfa, linfoma ou linfócitos, entre outros. Avisei ao cliente e deixei tudo ambíguo traduzido como Linf.

As siglas podem servir só para economia de espaço, como as abreviaturas, ou podem servir também para simplificar (EUA, por exemplo). As que querem só economizar espaço sempre aparecem em resumos de artigos científicos em que o autor é prolixo e o periódico exige o máximo de 300 palavras. Em geral, os guias de estilo ditam que a primeira ocorrência deve aparecer por extenso com a sigla em parênteses e as seguintes podem ser só sigla. Seria ótimo se todos fizessem isso. Mas quando encontramos YFV pela frente sem explicação o que a gente pensa mesmo é WTF. Em algum ponto do texto a gente acaba descobrindo que YFV = yellow fever vaccination. Ah, tá, podia ter explicado…

Por fim, uma classificação que entra aqui porque também é inevitável na vida do tradutor, mas é ainda mais relevante para os intérpretes, os trava-línguas. Imagine-se na situação em que você vai interpretar um evento chamado Idiopathic Lymphangioleiomyomatosis, em que vão falar sobre Doxycycline, luteinizing hormone, chylothorax etc. e tal. Não se enganem, vai acontecer. E eu não misturei ao acaso termo que são difíceis de pronunciar. Abram a página da Wikipedia referente a linfangioleiomiomatose, estão todos lá… Essa categoria dos trava-língua entrou aqui depois que o post estava pronto, por causa de um assunto que surgiu no meu twitter, e que está sendo conversado numa lista no ProZ. Lá encontrei esse vídeo, muito engraçado sobre outro problema para qualquer tradutor/intérprete: pronunciar os nomes das pessoas. E no final tem uma sigla, mas não vou estragar a surpresa.

14
abr
11

Imagem não, imagem não

Esta semana estou traduzindo um protocolo de pesquisa clínica e aconteceu uma coisa que volta e meia me pego fazendo. Ao fazer pesquisas terminológicas na internet, dependendo do que estou pesquisando, antes de clicar em “Pesquisar” começo a recitar um mantra mental: imagem não, imagem não, imagem não.
Há três principais categorias de pesquisa que desencadeiam meu mantra.

1) Escatologia. Os médicos conversam entre si muito casualmente sobre escarro, fezes amolecidas com sangue oculto, odores, vômitos, secreções de diversas cores saindo de vários lugares do corpo.
2) Açougue. Adoro protocolos de cirurgia ou instruções de uso de cateteres com ilustrações desenhadas. Corte aqui, aparafuse ali, insira acolá, avance o cateter, feche o tecido em camadas.
3) Pornografia. Alguns estudos clínicos nos quais trabalhei tinham como população-alvo pessoas com risco de exposição sexual. Há um tempo precisei procurar como era o nome “formal” para o sexo que chamávamos de ativo e passivo (vaginal ou anal insertivo/receptivo). Nesta categoria a gente também lê coisas muito interessantes. Um texto que traduzi trazia uma lista de perguntas a serem respondidas por pessoas que nasceram mulheres ou nasceram homens, ou seja, pertinentes ao sexo anatômico ao nascer e não ao gênero.

Mas eu, Juliana, tenho uma confissão a fazer: tenho aflição de algumas pesquisas dermatológicas e oftalmológicas que faço. Tenho um bloqueio danado com coisas nos olhos, não consigo pingar colírio nos meus (nos dos filhos já aprendi, meu filho é campeão em acordar com olho inchado) e fico com os olhos lacrimejando só de ver alguém com cisco no olho. Adivinhem o que chegou de trabalho esta semana? Um enorme e prolixo protocolo de pesquisa clínica oftalmológico! Nessas horas, além do mantra, a única coisa que sempre repito é: ainda bem que saí da faculdade de medicina!

05
abr
11

Do que cabe na vida em 6 meses

Recentemente, tenho ouvido cada vez mais dos nossos colegas reclamações sobre a postura excessivamente marketeira de alguns outros colegas nossos. É gente que não consegue falar de nada além de si mesmo, que não interage se não for para fazer um “jabá”. Criaram até uma premiação o Turíbulo de ouro. Tem também aquela agência de tradução que faz uma contrapropaganda, enviando e-mails a todos os contatos (inclusive tradutores) com promoções do tipo “leve 3 e pague 2 traduções”. É um tiro pela culatra.
Enquanto isso, estou sem vir aqui nem fazer comentários no twitter há 6 meses. Mal e porcamente acompanho o janelão, às vezes o twitter. E nunca trabalhei tanto como nos últimos 6 meses. Foi Natal, virada do ano, carnaval, tudo trabalhando, para isso precisei cortar algumas coisas da minha vida.
É que às vezes, a gente precisa deixar a vida da gente tomar conta. Se eu ainda por cima me forçasse a escrever aqui, me manter atualizada, ler todos os artigos, blogs, newsletters, listas de discussão etc. e tal, o que seria da minha vida? Minha vida NÃO é apenas trabalho. A parte mais importante dela está aqui, nos bastidores. Basta dizer que preteri o blog, mas viajei com a minha família, fiz o peru de Natal, minha sogra operou e passei algumas tardes com ela no hospital, mantenho uma rotina saudável de namorar meu marido sempre que posso, acompanho o dever de casa dos meus filhos, levo pra natação, equitação, futebol, violão, balé, inglês, francês (a prole é grande, pra quem não sabe), converso com a minha adolescente que vai prestar vestibular este ano. Em compensação, não ia à manicure desde janeiro. Estou tendo o prazer de digitar essas linhas com as unhas coloridas pulando no teclado. E vou tentar o meio termo entre o auto-incensamento e o desaparecimento completo, vou praticar pequenos atos de rebeldia na rotina insana. A ver se consigo.

22
set
10

Para ser tradutor de medicina (Parte 1)

Já conheci muitos tradutores profissionais que não traduzem medicina, assim como eu fujo do jurídico, do petróleo. Apesar de a tradução médica ser mais uma entre tantas possibilidades de especialização do tradutor, minha impressão é que muitas pessoas que entram na profissão já entram com medo de encarar a tradução médica. Comigo nunca foi assim, mas eu sempre me interessei pela área e cheguei até a cursar Medicina na faculdade por um ano. Para preparar minha palestra no ProZ, tive que parar e pensar um pouco sobre o que distingue a tradução médica das outras áreas da tradução. Nos próximos dias pretendo desmembrar a minha apresentação e colocar aqui alguns tópicos que surgiram na minha “investigação”.

Muitas das características que aponto como essenciais para o tradutor de medicina valem para qualquer área da tradução, por exemplo, a compreensão do texto de partida, do que vai ser traduzido. Isso é meio óbvio, precisamos entender o que lemos, mas diferente de traduzir, digamos, instruções para origami, na medicina dificilmente poderemos acompanhar na prática o que estamos traduzindo. Precisamos entender como colocar uma sonda, posicionar um transdutor, fazer avançar um cateter, mas por regra nenhum de nós vai executar uma dessas ações. Hoje em dia é muito mais fácil traduzir esse tipo de material completamente estranho ao cotidiano não-profissional do tradutor por causa do acesso a todo o tipo de material. Mais de uma vez ao traduzir instruções de algum dispositivo médico recebi vídeos do procedimento no qual esse equipamento é usado. Para os de estômago fraco, calma. Muitas vezes são vídeos de animação, que ajudam muito a compreensão do material com o qual estamos trabalhando.

Uma outra característica importante é que o tradutor médico não pode ter pudores. Eu recebo muitas traduções sobre doenças sexualmente transmissíveis e de vez em quando preciso pesquisar termos que podem incomodar aos mais pudicos. Isso vale não apenas para os termos relacionados ao sexo, mas também aos termos escatológicos. No seu texto pode aparecer algo do tipo “marque como estavam suas fezes esta semana”, seguido de diversas descrições possíveis sobre aspecto, odor etc. Vocês entenderam.

06
ago
10

A conferência do ProZ e a pseudossolidão do tradutor

Fiquei um pouco desaparecida do blog por causa dos preparativos para a palestra que dei no ProZ, e quando cheguei já engatei a quinta marcha para atender alguns clientes apressados (ainda bem que eles existem, viva a taxa de urgência!).

A experiência de ver os colegas, rever os amigos-colegas e conhecer gente nova é ótima. Saí da conferência revigorada, tanto pelo teor das palestras, como por me perceber parte de um grupo de gente de carne e osso, não um grupo de arrobados e nomes na minha caixa de entrada. Isso faz a maior diferença no meu dia-a-dia. Desde que comecei a frequentar eventos de tradução, não trabalho mais sozinha. Eu e um grupo de colegas viramos até objeto de estudo do marido de uma tradutora, porque transformamos o skype em um escritório virtual, uma sala de bate-papo com 19 tradutores, em vários fusos horários. Lá estreitamos laços, trocamos ideias e receitas, pedimos ajuda para achar um termo ou para energias positivas (só mais vinte laudas, vamos lá!), dividimos contatos e experiências. Isso supre, pra mim, um vazio que muitas vezes enfrentava no cotidiano do trabalho, a falta de companhia. Não sei mais o que é isso, e passei a gostar ainda mais do meu trabalho por causa desse grupo, do twitter, das listas de tradução, das comunidades de tradutores no orkut.

Mas, vou voltar ao assunto ProZ, porque tive até que mudar o título do post por causa do parágrafo aí em cima. A conferência foi muito bem organizada, as palestras foram excelentes e de alto nível, mesmo as voltadas para iniciantes. Minha opinião é que este ano houve muito menos espaço para a teoria e o estudo formal da tradução e mais aos aspectos práticos de um tradutor profissional. Na minha opinião isso foi ótimo, porque não tenho formação em tradução e, apesar de gostar de ler sobre o assunto, considero mais produtivo aprender sobre coisas que realmente causarão impacto sobre o meu trabalho. Acho bom também para estudantes de tradução, porque possibilita que eles vislumbrem como a profissão pode ser diferente da teoria e dá uma ideia dos pepinos que o tradutor profissional precisa descascar quase todos os dias. Recomendo a todos: procurem seus colegas na internet e façam o possível para conhecê-los ao vivo, porque isso vale a pena!

A seguir, alguns links sobre o evento:
Para quem não conhece o ProZ: www.proz.com
As apresentações do congresso: http://www.proz.com/conference/151?page=presentations
Para ver como foi a cobertura do evento via twitter (com fotos, comentários e links): http://twitter.com/#search?q=%23proz

19
jul
10

Carteiras de clientes

Numa lista de discussão da ATA, alguém perguntou de quantos clientes precisaria para viver de tradução e poder largar o emprego. As perguntas foram:

• De quantos clientes um tradutor precisa para se manter ocupado e se sustentar?
• Faz sentido ampliar minha base de clientes? Quanto mais?
• Como equilibrar o aumento no número de clientes e nossa disponibilidade, se pensarmos que não adianta termos 200 clientes, e estarmos sempre ocupados para a maioria deles, que vão acabar decidindo não nos procurar mais.

Algumas pessoas responderam dizendo que quanto mais clientes melhor, mas que sim, é preciso cuidado para estar sempre disponível para os melhores. Além disso, alertaram para não contarmos com apenas 2 ou 3 clientes para todo o serviço (ou grande parte) que fazemos, porque se um desses clientes quebra, decide arranjar um tradutor mais barato ou é vendido para outra empresa, por exemplo, podemos ficar em maus lençóis.

Outra pessoa falou de um sistema de classificação de clientes em pirâmide. No topo da pirâmide estão os clientes A, os melhores, que pagam bem, são profissionais e têm projetos interessantes, ou dos quais você gosta mais e tem lá seus motivos pra isso. Em seguida os clientes B e na base da pirâmide os clientes C. Os clientes A são sempre prioridade, e você sempre deve tentar estar disponível para eles. Se estiver sem trabalho dos seus clientes A, você pode prestar serviço para os clientes B e só depois de esgotadas suas opções A e B você passa para os clientes C. Já deu pra entender o sistema, não é? Pensei aqui com meus botões que deve existir o porão dessa pirâmide, os clientes D, dos quais a gente foge na velocidade da luz, tipo os mencionados no post anterior.

Pelas minhas contas, tenho 5 clientes A, para os quais evito ao máximo dizer não. Eles me ocupam bastante, conheço os gerentes de projeto, tenho como negociar prazo em caso de necessidade porque eu quero prestar o serviço pra eles e eles querem que eu seja a tradutora daquele projeto. Meus clientes B são dois ou três clientes diretos no Brasil que me pagam um pouco menos e aceitam um prazo maior, então posso encaixá-los entre meus clientes A, e também alguns clientes com um prazo de pagamento não tão bom assim. Na faixa B também estão uns clientes esporádicos, que me mandam trabalho algumas poucas vezes por ano. Em geral, meus clientes esporádicos são agências que não têm grande volume de tradução inglês>português e acho que em todas elas eu sou uma das pouquíssimas prestadoras de serviço de tradução médica nesse par de idiomas. Ao todo, acho que tenho uns 15 clientes B, e todo mês um ou outro deles aparece.

Fora esses, sempre tento aumentar minha base de clientes. Sempre que consigo mando currículos, faço testes, preencho formulários nos sites de agências. Este ano assinei contrato com 6 clientes novos, 4 dos quais já mandaram serviço. Por enquanto ainda não sei se serão clientes A ou B…

Por outro lado, tenho um cliente que pulou de A, com projetos interessantes, bem pagos e prazo de pagamento decente, para B-. Os assuntos continuam interessantes (estudos de vacinas de HIV, adoro!), mas depois de tomarem chá de sumiço por uns dois anos, queriam me pagar menos do que em 2006-2007. Não aceitei traduzir, mas consegui que me pagassem bem por palavra da revisão, e infelizmente para a profissão, mesmo não ganhando muito bem, os tradutores deles dão conta do recado bem o suficiente para eu ganhar por hora o mesmo que com meus clientes A. Eu gostaria que esses tradutores estivessem ganhando melhor, porque eu não aceitaria trabalhar numa área tão específica por tão pouco. Acho que se eu não valorizar minha capacidade e minha experiência, dificilmente o cliente vai virar pra mim e dizer: Juliana, eu quero aumentar sua tarifa porque você é o máximo. Já aconteceu de um ou outro colega dizer que o cliente aumentou os preços espontaneamente, mas normalmente EU é que tenho que virar pra ele e dizer que estou aumentando o preço.

18
jul
10

Programa de 12 passos para curar um vício comum em tradutores

O post que reproduzo a seguir me fez rir muito, e recentemente foi tuitado por outros tradutores. Estava aqui com a autorização do autor para traduzir o post desde maio, mas só agora tive tempo! Evidente que não concordo com tudo, mas dá bem a ideia do que vemos no nosso trabalho.

O post original está aqui.

Boa leitura!

Tradução tóxica: Um programa de doze passos para tradutores masoquistas

Os Doze Passos

1. Admita que você é impotente perante agências de tradução.

2. Faça um inventário profundo e implacável das vezes em que você se viu pensando: “É melhor pegar esse trabalho por $ 0,0000000006 por palavra. Se eu não pegar, outra pessoa pega!” ou “Um cliente que paga regularmente em 8275 dias ainda é melhor do que um que dá calote!” ou ainda “As agências são um negócio como outro qualquer, é natural que tentem ganhar tanto dinheiro quanto possível”. Reconheça que encontrar justificativas para um comportamento injustificável é um vício e que a sua vida como tradutor se tornou incontrolável.

3. Prepare-se para ouvir uma verdade do universo em doze palavras: Os preços de tradução estão caindo porque os tradutores aceitam preços baixos. Se você quer que seus preços parem de cair, tire o pé do acelerador na ladeira. Agora mesmo. Não existe droga para pessoas que estão dispostas a traduzir por a metade do valor médio pago a um garçom, então a única maneira de combater esse vício é de bate-pronto. Compense explicando de forma clara, sempre que responder a uma oferta insultante, recusar um trabalho mal remunerado, ou recusar um convite para reduzir seu preço, a razão pela qual está recusando. Eu sei que a etiqueta diz que não devemos dizer a pessoas grosseiras e mal-educadas que elas são grosseiras e mal-educadas, mas acho que a etiqueta prevê uma exceção no caso dos tradutores. Maus-pagadores são os predadores abissais no oceano da tradução. Não hesite em enviá-los de volta para a lama de onde vieram.

4. Se você está realmente vivendo de Miojo, não consegue pagar o aluguel, ou está diluindo cola pra dar ao seu filho porque fica mais barato do que leite, aí sim você tem uma excelente desculpa para aceitar condições de trabalho e salários insultantes. Temporariamente. Enquanto procura um emprego que lhe pague um salário digno e não ferre seus colegas que dependem da tradução para sua subsistência. Se esse não for o caso, você não tem desculpa. Nem tudo na vida é preto no branco, mas isso é. Enquanto isso, se você não está realmente passando necessidade, pare de usar esse pretexto para justificar sua participação na destruição da profissão. Qualquer um de nós pode um dia encontrar uma fila de cobradores na porta, mas isso não acontece com todo mundo o tempo todo. Não use a verdadeira miséria de uns para disfarçar o fato de que você não conseguiria encontrar seu respeito próprio mesmo que tivesse um guia sherpa e um GPS.

5. Por outro lado, se seus pais ainda estão pagando seu aluguel e abastecem a dispensa, se seu marido é o CEO da Halliburton ou o presidente da Mediaset, ou se você é herdeiro de uma fortuna e que “ama línguas”, faça algo de bom para a profissão e para sua alma imortal e traduza de graça. Existem dezenas, ou mesmo centenas, de organizações sem fins lucrativos dignas que precisam da sua ajuda. Enquanto isso, alguns de nós aqui estamos tentando ganhar nosso sustento. Seu preço de esmola está matando tradutores que dependem da tradução como sua única fonte de renda.

6. Aceite o fato de que o seu diploma da Escola Acme de Mediação de Idiomas ou da Academia Flinghurst de Tradutologia, no fim das contas, não vale nada. Tradução se aprende na vida, não na sala de aula. Porém, se você se formou recentemente em um desses cursos, faça o seguinte até que esteja realmente preparado para fazer jus aos preços profissionais: torne-se aprendiz de um tradutor de confiança, doe traduções para uma causa digna para engordar o currículo (ver no 5, acima), gaste seu tempo livre praticando traduções para sua formação pessoal, melhore sua capacidade de escrever na sua língua materna, leia (e muito) em ambas as línguas. NÃO: ofereça traduções com descontos nem implore aos seus clientes para deixá-lo trabalhar “por praticamente nada” porque você “ama traduzir”. Por que não? Pelo mesmo motivo que no zoológico há uma placa “Não alimente os macacos”. Porque, se você fizer isso, eles ficam gordos e preguiçosos e nunca aprendem que as bananas profissionais e bem qualificadas não são distribuídas por aí de graça.

7. Pare de permitir que os clientes ditem seus preços e suas condições de trabalho. Você realmente precisa que eu faça a analogia mais uma vez? Mesmo? Então tá, lá vai. Você vai a um restaurante e, depois de consultar o menu, chama o proprietário para sua mesa e diz: “Este bife está superfaturado, vou pagar a metade e quero que você inclua uma garrafa de vinho por esse preço. Mas se não estiver tudo na minha mesa no prazo de dez minutos, o negócio está cancelado”. Se você fizer isso num restaurante, vai receber um bom chute no traseiro. Já na tradução, você diz: “Oh, sim, Sr. Cliente, muito obrigado, Sr. Cliente, por favor mande sempre mais trabalho assim, Sr. Cliente”. Três palavras: Pare – com – isso.

8. Pare de usar a internet até aprender a usar direito. O “freedictionary” não é um recurso profissional; o Wordreference.com e o Yahoo! Answers não são fóruns em que você pode consultar colegas confiáveis e experientes. Cerca de metade das respostas nos KudoZ do ProZ.com estão erradas. A Wiki muitas vezes vale tanto quanto uma folha de papel. O Google não é seu amigo; faça uma busca por “pobrema” e veja quantos resultados você obtém (41.000). Depois disso a gente conversa sobre como pesquisas na internet são úteis para confirmar o uso de uma palavra. (Caramba! Traduzir, no final das contas, pode ser bem mais difícil do que você imaginava, hein?)

9. Se um cliente não pagar no prazo (ou der calote), pare de trabalhar para ele. Agências, editoras e clientes que não pagam conforme o combinado são como homens que batem nas esposas. Eles vão fazer de novo. A única pergunta é: Você vai estar parado no mesmo lugar quando o golpe vier? (Teste rápido: “Foi sem querer”, “Eles estão passando por um período difícil” e “Se eu o largar, posso nunca mais encontrar outro” são frases habitualmente usadas por: [a] esposas maltratadas; [b] tradutores masoquistas, [c] os dois.)

10. Tradução não é ‘Ndrangheta. Ninguém vai mandar você dormir com os peixes se falhar em seu compromisso de omertà. Diga aos seus colegas quando um cliente não pagar, quando fazem exigências exageradas, quando revisam o texto sem avisar, quando insistem em tentar baixar suas tarifas, quando se esquecem de colocar seu nome na tradução, quando mudam o combinado depois de começado o serviço, quando se recusam a pagar a taxa de urgência ou de horas-extra, quando exigem descontos indevidos. Aceitar essas condições em silêncio não faz de você um cara esperto, faz de você um cúmplice.

11. Defenda seu idioma materno. Orgulhe-se de vê-lo sendo bem usado, com eloquência e fluência. Ofenda-se quando ele for maltratado e desrespeitado. Não acredite nesse modismo de globalização, línguas do mundo, coisa e tal. Pare de aceitar a alegação absurda e não comprovada de que a tradução por um não-nativo é tão válida quanto a tradução por um nativo, ou que as pessoas que lêem traduções em sua segunda língua “não se importam” se o texto está bem escrito ou não. Sua capacidade de aplicar sua língua materna com sofisticação, flexibilidade e habilidade é sua ferramenta de venda mais importante. Você pode nunca ter sucesso em convencer todos da importância desta questão, mas pense no seguinte: muitas pessoas acham que é aceitável beber vinho vendido em caixas longa vida, assistir à Fox News, ou comprar CDs da Lady Gaga. Se você é um profissional da tradução, deveria estar acima dessas coisas.

12. Se existe uma coisa pior do que tradutores que se queixam o tempo todo, são os tradutores que se queixam de tradutores que se queixam o tempo todo. Vamos supor que você ganha muito dinheiro, seus clientes respeitam seu tempo e seu conhecimento e todo mundo paga de imediato. O nome disso, na verdade, é sorte enorme, não licença para monólogos nos ouvidos de todos sobre como deveriam parar de reclamar e voltar ao trabalho. O fato de tradutores reclamarem é bom, indica a existência de auto-estima e de um instinto de autopreservação, diferente da sua ideia de superioridade e presunção de cada um por si. Se não tiver nada a dizer para ajudar o avanço da profissão (não apenas da sua pequeníssima fatia), tenha a decência de ao menos sair da frente de pessoas que estão tentando melhorar a situação (inclusive para você, mané).

07
jul
10

Você visita um médico no consultório?

Gente, eu não resisti. Cliente novo manda trabalho e TM (pra quem não sabe, memória de tradução) de cliente final empresa médica multinacional. Assunto: estudo clínico. É um tal de visita pra lá, visita pra cá, para traduzir “visit”. Vou lançar um movimento anti-visitas aos médicos. Falando sério, você liga para o consultório do seu ortopedista para marcar uma visita ou uma consulta?

Querem ver a salada complicar? Meu marido é médico, e ele sai todo dia de manhã para passar visitas (“round”, em inglês).

Estou me mordendo pra mudar a terminologia desse projeto… estou só esperando aparecer um investigador principal (“Principal Investigator”), já apareceu consentimento informado (“informed Consent”), mas desses termos falo aqui um outro dia, tenho que voltar para o batente.